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Transformando a saúde com inovação: UTI Conectada

13/08/2024 | Janaina Marsolla

Os desafios na área da saúde estão longe de serem eventos isolados. Questões de saúde pública como epidemias, pandemias e desenvolvimento de resistência a tratamentos antimicrobianos são exemplos de situações que podem rapidamente se transformar em surtos de escala global. 

 

Não muito distante dos dias atuais, cenários como as infecções causadas pelo vírus H1N1 e Influenza, bem como a pandemia provocada pelo coronavírus, evidenciaram a necessidade de esforços coordenados entre entidades públicas e privadas para conter a saúde da população e mitigar seus impactos adversos. 

 

No contexto brasileiro, o sistema de saúde pública do país frequentemente enfrenta desafios complexos relacionados à sua sustentabilidade financeira e capacidade de fornecer serviços de qualidade de maneira equitativa para toda a população. Por esse motivo, seus maiores objetivos estão relacionados à otimização de gastos a longo prazo e à ampliação de sua eficiência, assegurando a viabilidade dos recursos médicos em todas as regiões do país.

 

Para que isso se torne possível, é indispensável o uso da tecnologia aliada à inovação, pois cumprem um papel fundamental no desenvolvimento de soluções capazes de responder aos maiores obstáculos enfrentados, mitigando impactos negativos e protegendo, também, a saúde dos profissionais da linha de frente e da população de modo geral. 

 

Dados da Organização Mundial da Saúde apontaram que, globalmente, no período de janeiro de 2020 a maio de 2021, entre 80 mil e 180 mil profissionais da área da saúde perderam suas vidas devido à contaminação direta por Covid-19 em ambiente hospitalar. 

 

UTI Conectada: a tecnologia a favor da vida

 

Durante a pandemia, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), que foi o complexo hospitalar que mais atendeu pacientes em estado grave em decorrência do coronavírus, percebeu a necessidade de proteger a saúde dos profissionais da linha de frente, pois enfrentavam um alto risco de contaminação pelo contato direto com pacientes infectados por Covid-19 internados nas UTIs. 

 

É neste contexto de pandemia que, em 2020, através de uma iniciativa para estimular empresas do setor privado a co-criar soluções para os desafios enfrentados pelo Estado de São Paulo na área da saúde, iniciou-se o projeto UTI Conectada. Seu principal objetivo era desenvolver alternativas que permitissem o monitoramento remoto e em tempo real dos pacientes internados nas unidades de terapia intensiva (UTIs) e enfermarias. 

 

Coordenado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas (InovaHC), as empresas Carenet e Lifemed foram as duas startups selecionadas para desenvolver seus protótipos, que permitem o monitoramento remoto dos sinais vitais emitidos por equipamentos à beira leito e possibilitam uma integração heterogênea dos demais dados apresentados.

 

Desde informações sobre sinais vitais até dados de múltiplos parâmetros e impedância elétrica – quando aplicável -, há uma integração multimodal de informações que não se limita aos exemplos mencionados, e que pode ser replicável para todo o complexo hospitalar do HCFMUSP. Além disso, essas métricas podem ser analisadas a partir de um único ponto de observação. 

 

Este dashboard único e dinâmico para a visualização de dados heterogêneos em tempo real permanece vinculado ao histórico de cada paciente, garantindo um registro completo para tratamentos contínuos e cada vez mais adequados às suas necessidades individuais.

 

O projeto, que iniciou seus primeiros testes operacionais em apenas dez leitos na ala respiratória do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (InCor), expande suas operações para além de suas dependências no ano de 2021. Atualmente, com o apoio do Ministério da Saúde do Estado de São Paulo, a iniciativa comporta o monitoramento remoto e em tempo real de 21 UTIs conectadas, abrangendo um total de 226 leitos nos Estados de São Paulo, Espírito Santo, Sergipe, Roraima e Paraná. 

 

“O uso de um dashboard único e integrado permite que pesquisadores das UTIs envolvidas no projeto sejam estimulados a conduzir estudos com amostras maiores. Isso contribui significativamente para elevar a qualidade dos resultados obtidos”, afirma o Professor Carlos Carvalho, Diretor da Divisão de Pneumologia do InCor-HCFMUSP.

 

As perspectivas para o futuro do projeto UTI Conectada são bastante promissoras. Para os próximos anos, o Hospital das Clínicas vislumbra a conexão integrada de seus 500 leitos, podendo usufruir deste ecossistema de dados interligados e correlacionados para qualquer tratamento que a instituição ofereça – ou venha a oferecer. 

 

Este avanço não apenas fomenta o desenvolvimento de pesquisa e inovação (PD&I) na área da saúde, mas também facilita novas descobertas, incluindo a detecção precoce de condições de risco em pacientes internados e novos padrões infecciosos ou virais. Tais recursos possibilitam intervenções rápidas e eficazes para melhorar tanto os resultados clínicos dos pacientes, quanto proteger a saúde da população. 

Um complexo hospitalar conectado e capaz de fornecer conglomerados de dados essenciais em multiformatos ilustra como a tecnologia pode contribuir para o avanço da medicina e, consequentemente, auxiliar centenas de pessoas diariamente. Além disso, a UTI Conectada é um case de sucesso do ecossistema brasileiro de saúde, pois promove boas práticas que não só minimizam custos operacionais a longo prazo, como também têm o potencial de reduzir a taxa de mortalidade entre pacientes internados.

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