Como a interoperabilidade aplicada na saúde pode otimizar fluxos de atendimento?
Imagine a seguinte situação: você consulta um especialista, realiza uma série de exames e, ao retornar para um segundo atendimento, precisa repetir todo o processo de coleta de dados, mesmo sabendo que essas informações já estavam registradas em outro local. Esse tipo de situação frequentemente resulta em atrasos no diagnóstico, aumento de custos e, em casos de emergência, até pode colocar a saúde do paciente em risco. No entanto, na maioria das vezes, a jornada do paciente poderia ser otimizada se os sistemas dos hospitais e clínicas se comunicassem de forma integrada.
A boa notícia é que já existem soluções para resolver esse tipo de problema. A interoperabilidade na saúde é uma das chaves para garantir que os dados dos pacientes sejam compartilhados de maneira eficaz e segura entre as redes envolvidas no processo do diagnóstico e tratamento dos sintomas. Com a implementação de sistemas que visam a unificação e o compartilhamento integrado de informações, a detecção do quadro clínico se torna mais rápida, bem como as decisões da equipe médica, que se tornam mais precisas e assertivas.
Desafios gerados pela fragmentação de dados
A fragmentação dos dados na área da saúde é um dos maiores desafios enfrentados pelo setor. Em muitos casos, os hospitais, clínicas e laboratórios utilizam sistemas de registros médicos diferentes, dificultando tanto a comunicação entre os profissionais de saúde quanto a integração e o armazenamento de informações cruciais sobre o histórico de cada paciente.
Além disso, a ausência de unificação dos dados em uma única plataforma pode levar a atendimentos descoordenados e até erros médicos, especialmente em pacientes internados em UTI’s, onde há alta rotatividade de médicos e enfermeiros. A falta de acesso rápido e completo às informações pode comprometer a continuidade do cuidado, aumentando o risco de equívocos no diagnóstico e no tratamento.
A interoperabilidade como solução
Para assegurar que o histórico de saúde do paciente seja acessado de forma rápida e segura, especialmente em casos de emergência, a interoperabilidade surge como uma ferramenta importante para solucionar os desafios causados pela fragmentação de dados. Ela também permite que a condição clínica do indivíduo seja constantemente atualizada e acessada por diferentes pontos de atendimento, criando uma rede de informações disponíveis em tempo real.
Um exemplo positivo dessa integração de dados é o projeto UTI Conectada, coordenado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas (InovaHC). O programa visa o monitoramento dos sinais vitais de pacientes à beira leito, acessíveis a partir de qualquer ponto de observação. Por meio de um dashboard dinâmico, todos os dados podem ser visualizados em tempo real e, ao mesmo tempo, permanecem vinculados ao histórico completo de cada paciente. Isso não só facilita a gestão contínua do tratamento, mas também permite a adaptação dos cuidados de acordo com suas necessidades individuais.
Outro benefício importante da implementação de tecnologias de interoperabilidade é a possibilidade de replicar soluções como a UTI Conectada em outros hospitais e unidades de tratamento. A possibilidade de escala desta aplicação abre portas para a transformação do sistema de saúde como um todo e pode beneficiar pacientes em diversas regiões e contextos.
“Se conseguirmos proporcionar um cuidado mais eficiente, podemos aumentar significativamente o número de pacientes que recebem terapia sem a necessidade de internamento, contribuindo para a otimização dos recursos hospitalares e melhorando o fluxo de atendimento”, afirma o Dr. Giancarlo Fatobene, Médico do Núcleo de Pesquisa de Hematologia do Hospital das Clínicas.
Desafios e caminhos para a implementação
Apesar dos benefícios da unificação das informações na saúde, sua implementação enfrenta diversos desafios. Um dos principais obstáculos é a diversidade de sistemas e tecnologias utilizados pelas diferentes instituições. Cada hospital pode adotar plataformas distintas, com padrões e funcionalidades variados, dificultando a integração de informações entre plataformas. Nesse contexto, a padronização de protocolos é essencial, mas ainda há uma grande resistência e complexidade na adoção de tais medidas.
No entanto, para além da adoção desses protocolos, é fundamental que ocorra a colaboração entre instituições de saúde, desenvolvedores de tecnologias e órgãos reguladores para garantir a implementação de soluções que atendam às necessidades de todos, mantendo a segurança dos dados ao passo em que promove uma transição gradual para sistemas de saúde mais conectados. Através de uma rede única, será possível oferecer um atendimento cada vez mais centrado nas necessidades individuais dos pacientes, mesmo quando não houver a possibilidade de acesso imediato ao ambiente hospitalar.
Por isso, a interoperabilidade na saúde vai além de apenas uma inovação tecnológica; ela é fundamental para construir um sistema de saúde mais eficiente. Com uma plataforma única capaz de processar dados diversos em tempo real, permitindo com que sistemas distintos “conversem” entre si, a interoperabilidade facilita o monitoramento de pacientes, reduz custos operacionais e apoia a equipe médica na tomada de decisões. Por isso, torná-la uma prioridade é fundamental para transformar o sistema de saúde, criando um futuro mais conectado e colaborativo.