Como a cultura de inovação contribui para maior resiliência no combate contra a Covid-19?
A pandemia da Covid-19, que afeta a população mundial em maior ou menor grau de complexidade até os dias atuais, evidenciou o papel fundamental que a inovação aliada à tecnologia pode exercer no combate de situações de ameaça significativa à saúde da população.
De novas variantes às diversas condições epidemiológicas, a Covid-19 apontou não apenas um cenário de emergência para os órgãos governamentais como também causou uma série de impactos socioeconômicos severos. Compreender as condições ocasionadas pelo coronavírus é fundamental para planejar estratégias de intervenções na saúde pública, bem como para o desenvolvimento de políticas que possam beneficiar a população no controle e tratamento da doença.
Se, por um lado, esta crise sanitária afetou drasticamente a economia do país, por outro viés, destacou a capacidade limitada que tínhamos para responder situações emergenciais com agilidade. Além disso, impulsionou o desenvolvimento de pesquisa científica e a adoção de novas tecnologias para superar os desafios enfrentados pelo sistema de saúde no Brasil ao mitigar danos oriundos do SARS-CoV-2.
À medida em que a pandemia evolui, seus efeitos continuam sendo sentidos e estudados por órgãos governamentais, profissionais da saúde, da ciência e de áreas correlatas. Nesse sentido, um dos temas que vêm despertando cada vez mais a atenção das entidades públicas e da comunidade médico-científica é a chamada “Covid Longa”, também conhecida como “Síndrome Pós-Covid”. Trata-se de uma condição clínica que afeta uma parcela de indivíduos com histórico de infecção pelo SARS-CoV-2, que desenvolveram sintomas prolongados da doença.
Descrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “imprevisível e debilitante”, já foram constatados mais de 200 sintomas no diagnóstico da Síndrome Pós-Covid, que afetam quase 60% das pessoas com histórico de infecção pelo coronavírus. Um estudo realizado pela Fiocruz no Brasil para analisar os aspectos desta condição clínica acompanhou 1.230 participantes, ao longo de 14 meses, e constatou que aproximadamente 58% dos pacientes apresentaram sintomas prolongados da infecção viral, sendo os mais comuns: fadiga, falta de ar, perda de memória, déficit de atenção e insuficiência renal.
In.Pulse – Covid Longa: Inovação aberta para o setor da saúde na luta contra o Covid-19
Como forma de promover uma resposta imediata e coordenada das autoridades de saúde e dos órgãos governamentais, em 2020, o Estado de São Paulo lançou chamadas públicas de desafios tecnológicos contra a Covid-19, com o objetivo de impulsionar soluções inovadoras para enfrentar a pandemia.
Nesse contexto de fomento à inovação aberta no Estado, iniciou-se o In.Pulse – Covid Longa: inovação aberta para o setor da saúde na luta contra o Covid-19, um projeto estabelecido entre o Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID Lab, em parceria com o Hospital das Clínicas da FMUSP, executado através de seu Núcleo de Inovação Tecnológica, InovaHC. Entre seus principais objetivos, destaca-se a validação de soluções fundamentadas na tecnologia, visando impactar ao menos 10.000 pessoas durante sua fase de teste. Inicialmente, a proposta também contou com o apoio do IdeiaGov, um hub de inovação aberta do Governo do Estado de São Paulo voltado à implementação de soluções inovadoras na administração pública, a fim de mapear e priorizar os principais desafios, resultando na promoção de melhores serviços para a população.
Nesta edição do programa, foram selecionados quatro desafios de inovação aberta na temática da Covid Longa, que foram cuidadosamente mapeados e priorizados de acordo com as necessidades impostas pelo cenário da pandemia. Esses desafios visam encontrar soluções para problemáticas que abrangem desde o tratamento e análise de dados para apoiar a comunidade médico-científica na geração de conhecimento e tomada de decisão na aplicação de protocolo clínico, até soluções inteligentes capazes de estabelecer tratamento adequado e promover o engajamento de pacientes com sequelas cognitivas.
Além disso, a parceria entre o Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento e o InovaHC contou com o apoio financeiro de R$100.000 para a fase de teste e desenvolvimento de protótipos. Este financiamento, oferecido pelo BID Lab, possibilitou a construção das soluções em colaboração com as equipes técnicas do Hospital das Clínicas, bem como o teste e a validação destes protótipos em ambiente operacional real no período de seis meses.
Marco Legal das Startups e fomento à inovação aberta
As empresas PickCells, Agile Health.tech, Straloo e Metacognitiv foram as quatro startups selecionadas para responder aos desafios mapeados e promover soluções que visam a remissão do quadro clínico da Covid Longa. Ao mesmo tempo, estas empresas foram pioneiras a ingressar no Hospital das Clínicas através do modelo de contratação do Marco Legal das Startups, estreando não apenas essa modalidade de aquisição de compras públicas na área da saúde, mas também na cidade de São Paulo.
Isso reforça a importância do incentivo à cultura da inovação na área da saúde, que é fundamental para diagnosticar, monitorar e viabilizar o tratamento mais adequado às necessidades individuais de cada paciente com eficiência. Essa cultura não apenas se destaca por sua capacidade de adaptação rápida às mudanças, mas também por encorajar a experimentação e a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento para superar desafios complexos de maneira integrada e holística.